MÁQUINA DE CINEMA AFRICANO

Primeiro Hollywood, depois Bollywood e agora Nollywood.
Certamente menos popular do que as suas congéneres americana e indiana, a indústria cinematográfica nigeriana é, apesar disso, a mais produtiva do momento em todo o mundo relegando os gigantes indianos para o segundo lugar, com apenas metade do volume produtivo. O cinema está a mudar…
Com menos glamour e celebridades do que as passadeiras vermelhas de Hollywood, esta é uma indústria de cinema de barba rija. Produz-se, produz-se e, quando já se produziu muito, produz-se mais um pouco. As festas e os rodeios publicitários, o marketing e merchandising, as ante-estreias e os blockbusters de bilheteira são substituídos por uma produção massificada de cada filme com o objectivo de distribuir e fazer circular o maior número possível de cópias digitais de cada produção. O modelo de indústria audiovisual nigeriano assenta nessas cópias digitais (DVD) e em pequenas salas digitais para exibição dos filmes, bem como distribuição televisiva.
Os maiores sucessos galgam com frequência os 200 mil exemplares. Feitas as contas, a Nigéria tornou-se já na mais prolífica indústria cinematográfica do mundo com uma produção que varia entre os 1000 e os 1500 filmes por ano. A Índia não chega a metade dessa produção e os EUA situam-se nos 500 títulos anuais.
Na realidade, a contabilidade da indústria audiovisual nigeriana pouco deixa a desejar perante as suas congéneres americanas e indiana. Os estimados 250 milhões de dólares facturados por ano colocam-na bem no topo da tabela, lado a lado com as receitas das maiores indústrias mundiais. Poderíamos também imaginar que esse sucesso se limitaria ao mercado interno mas, uma vez mais, falharíamos as presunções. A produção nigeriana vem apresentando um crescimento exponencial nos países vizinhos, antigas colónias inglesas, e chega às etnias para lá das fronteiras no Gana, Quénia, Uganda, Gambia, Níger, Camarões, Benin, Zâmbia, Togo e Sudão. Chega também ao Botsuana, Zimbabué, Suazilândia, Namíbia e África do Sul através de canais por cabo sul-africanos especializados numa programação feita a partir da produção audiovisual nigeriana. A diáspora nigeriana pelo mundo (cerca de 7 milhões) funciona também como uma forte alavanca para levar o cinema nigeriano e o seu modelo ao resto do mundo.

Afinal, de onde veio toda esta torrente cinematográfica? De onde partiu este «boom de Nollywood»?
Tudo remonta aos primeiros suspiros da década de noventa e a um punhado de cassetes VHS a ganhar poeira nos stocks difíceis de escoar do comerciante Kenneth Nnebue. Quando o comerciante se apercebeu de que seria muito mais fácil escoá-las se tivessem um filme gravado, em vez da solução imediata de fazer cópias ilegais de filmes estrangeiros, decidiu pôr mãos ao trabalho e realizar o seu próprio filme. Nascia assim o primeiro blockbuster nigeriano, «Living In Bondage», que vendeu mais de 750 mil cópias.
A partir daqui, Nollywood não mais pararia de crescer...

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