Indecência II
Neste país de contrastes fui apanhada em falso, pela segunda vez.
Quem me conhece, a mim e às minhas atenções a pormenores, pode achar descabido, mas no fundo é só mesmo pelo inusitado da situação.
Na Loja do Cidadão versão angolana, fui acusada de "estar indecente"!!
Pasmem-se talvez ou pensem que enlouqueci de vez? Nada disso.
Já na rua senti os olhares, mas pensei que a minha cor, embora bronzeada, fosse o motivo. Efectivamente, era a única pessoa de raça branca!
Mas afinal era a roupa que levava que causava espanto.
Sim, fui para o SIAC - assim se chama esta instituição ultra-conservadora - com os ombros à mostra!
Pecado?
O medo, o horror? Não! Regras!
As fotos que tinha tirado, ainda em Portugal- por ter novamente o raio dos ombros à vista- não serviam! Reagi com um sorriso cínico e um palavrão surdo.
A solução foi ir à papelaria tirar umas chapas novas, trajando um blazer vermelho do inicio dos anos 90, que além de grande, teve de ser apertado até cima.
O decote tinha de ser decente!
Pendurados em vários cabides, podia ver camisas - todas elas azuis - gravatas, casacos e camisas de senhora! Um verdadeiro guarda-roupa para a foto sob censura.
Resultado: a foto do meu BI angolano está terrífica e aprendi mais uma vez que em Angola, não se pode vestir qualquer coisa quando se trata o Estado!
PS: No processo ainda ouvi a pergunta a que não necessitava responder:
- "Raça?"
Ao que respondi:
- "Branca, obviamente!"
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