Um dia
Podia ter sido um dia qualquer, mas não foi.
Sais de casa para ir trabalhar e enfrentar uma hora de transportes públicos.
O que significa que naquela hora, vais tentar não tocar em nada nem em ninguém, fazendo equilibrismo matinal. No fundo é um misto de atenção redobrada, respiração afectada pela máscara e muita paciência para gente parva.
Um dia de escritório e torna a repetir, a mesma lengalenga na volta a casa.
Para respirar um pouco de ar, decides vir a pé uma parte do percurso e abdicar do autocarro. Aqui nada de novo. Distanciamento social aplica-se sempre, desde que não chova. Mas agora com esta situação, até a chuva se aguenta melhor.
Finalmente chegas à porta do prédio. Só pensas num duche e jantar alguma coisa.
Missão cumprida!
Não!
Ainda tens de subir 8 andares a pé, sem luz nenhuma, a não ser a lanterna do telemóvel.
Tens de te cruzar com mais gente parva, e tens de colocar, novamente, a máscara!
E enquanto sobes, pensas que só faltava não teres luz em casa, enquanto vais ouvindo que afinal é agua que vem do ginásio, que está a cair na portaria.
Pensas que podiam fazer uma cascata, ficava super bem, entre a relva falsa e as plantas nativas.
Dava para entreter os moradores. Assim não reparavam nos elevadores e nas campainhas desligadas. Podia funcionar, acreditem.
Chegas, finalmente. Há luz, mas também há água a cair do tecto da casa de banho. Esta não vem do ginásio, mas do namoro entre o teto e a banheira do vizinho de cima. É uma relação verdadeira. Já tem 5 meses, segundo consta.
Esperemos que o caso entre o ginásio e a portaria acabe rapidamente, senão o que já não era bom, passa a insuportável.
Podia ter sido um dia qualquer, mas foi hoje!
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