Lar doce escritório
Nesta nova realidade, onde tudo se altera e se adapta, para reagir à circunstância, passou a ser censo comum que o teletrabalho é uma benção.
Se estás em teletrabalho, andas o dia todo à boa vida.
Fazes o que queres e tal. Nada te afecta.
Pois é, meus amigos, mas só quem passa por isso sabe, o quão pode ser complicado de gerir.
Primeiro perdemos as rotinas.
A hora de acordar, invariavelmente cedo, a viagem até ao local do castigo e o castigo em si, durante as horas destinadas, na sentença que se chama contrato de trabalho.
Era uma rotina chata, que fazíamos por obrigação. Deixámos de a ter e nunca pensei sentir a falta.
Agora acordamos 10 minutos antes do log in, ou meia hora para ainda beber um café. Se não desperdiçamos tempo em viagem, podemos dormir mais, tomar banho quando nos der jeito.
Pentear o cabelo para reunião em video chamada, porque ficava mal o estilo desgrenhada. Sim, ninguém nos vê. O que não significa que seja sempre tão libertador como pensam.
Quando já não vale a pena tirar o pijama, estás a dois passos de entrar em stress e desabafar com o micro ondas.
Já não existe diferença entre o nosso lar e o local de trabalho. Não há horários para nada que não seja, trabalhar
Quando antigamente se fechava a porta das obrigações a uma determinada hora, agora as obrigações já lá estão quando acordas, e demoram a desligar. Afinal o computador está, no meu caso, na mesa da cozinha e o telemóvel nunca fica por atender.
Sim, podemos ir ao supermercado do bairro em meia hora, ou tirar uma tarde para recarregar baterias e ver sol, para além das persianas do nosso castigo atual. Mas a responsabilidade faz com que nunca te desligues, e com o passar do tempo, desgasta.
Para pessoas como eu, que sempre trabalhei fora, com muita gente e muita coisa a acontecer, posso dizer que não é uma benção.
Uma benção é ainda ter trabalho, na área da cultura, o parente pobre do Portugal de vistas curtas.
Comentários
A cada um recomendo..."One step at a time, one punch at a time" !!