A verdade transparente


Azul do céu -  (Kandinsky - 1940)


Sempre ouvi dizer, que não há nada mais transparente do que uma criança, ou um bêbado.
Quando não temos filtros sociais, quando ainda não estamos debaixo do jugo do escrutínio alheio, somos puros. Dizemos e demonstramos aquilo que sentimos, sem censura nem preconceito. Falamos verdade porque é esse o nosso instinto. 
Depois mudamos. 
Mudam-nos ou adaptamos-nos de forma a esconder as fraquezas. Só transmitimos o que nos convém, e nem sempre verdade anda de mãos dadas com o egocentrismo.
Todos temos esqueletos no armário, todos escondemos aquilo que achamos não ser correto, ou socialmente aceite. Existe sempre um cinzento no arco-íris!
Mas todos esse controlo se perde quando se bebe para além do, digamos, socialmente aceitável.
Tudo o que está debaixo da pedra, o que foi consciente ou inconscientemente recalcado, ganha vida e a verdade volta.
Por vezes é mau, porque agredimos, magoamos e pisamos sem olhar a quem. 
É o que nos incomoda, o que não podemos confessar ou o que não temos coragem para fazer. 
A mesma sociedade que nos condena, também nos perdoa, porque afinal a pessoa não estava em si.
Mas estava! E nenhuma atitude má para com os outros, deve ser desconsiderada. 
Mas como tudo tem um lado positivo, existe sempre alguém que nos surpreende.
Aquela pessoa que achavas ser assim, afinal não é bem assim. 
A muralha tem uma porta e para lá da porta existe todo um mundo desconhecido.
Desconhecido, verdadeiro, sensível ( por vezes até demais ) e com todas as fraquezas, necessidades e medos! 
Não há nada mais real, do que aquilo que se sente naquela altura, embora no dia seguinte possa parecer tudo meio nublado e sem conexão.
Aprendemos a menosprezar tanto a pureza das crianças, porque são crianças, como a sinceridade e a frontalidade de um bêbado, porque está bêbado e amanhã passa-lhe. 
Por mim posso dizer que já nem me lembro de ser criança e quanto ao resto, mantenho-me na parte sóbria  e segura da barricada. 
Tenho sobrinhos de sobra, que me arrastam para a realidade inocente. 
Ou me derretem o coração ou então fico grata por me chamarem chata, e por me responderem à letra. 
Quanto aos outros, penso que como todos nós, tenho uns dos quais me afastei e outros que ganharam a minha amizade!



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