De visita à prima Casimira!

Há quem vá a Marrocos visitar a tia, mas nós fomos ao Cercal visitar a nossa querida prima Casimira. 

Se pensarmos bem até nem fica assim tão longe, mas o que nos separa soa a um universo de viagem. As paisagens são castanhas douradas a perder de vista, as gentes são poucas ou quase inexistentes e o tempo parou. Para se ser atendido só o conseguimos ao balcão, com a nossa senha na mão e com muita paciência à mistura. Sempre ouvi dizer que as gentes alentejanas são afáveis e simpáticas, mas entristece-me constatar que nem por isso. 

Quando lhes cheira a turista, seja ele tuga ou steak, os preços sobem, a lentidão instala-se e até a forma como nos olham irrita qualquer mortal. Somos diferentes, falamos com sotaque, vestimos roupa estranha, resumindo somos “de fora da terra” e logo ai estamos em desvantagem. Não deveríamos ser bem recebidos e tratados para voltarmos e trazer amigos? Esta postura de auto-defesa afugenta quem não tem raízes e cria calo em quem até tem ascendência, embora não se possa apelidar de alentejano. 

O silêncio que se sente na vastidão das planícies alentejanas deve contagiar quem por lá nasce. Entrar num bar cheio de alentejanos é sensivelmente o mesmo que este estar vazio. Dar nas vistas nem sempre é o meu forte, mas nesta incursão pelo Portugal rural, era quase inevitável. Oito lisboetas (da margem sul, mas para eles é exactamente la meme chose) bem dispostos e em amena cavaqueira fazem mais barulho que a procissão religiosa mais frequentada da vila.

Amiguinhos alentejanos vão por mim: tentem compreender-nos e não nos olhem como se viéssemos de Plutão. Somos iguais e a única diferença reside na forma como comunicamos e como estamos. Não somos um risco para a saúde pública, nem assaltamos velhinhas ao anoitecer. Nós sabemos que não nos convidaram, que acham estranho passarmos noites a jogar às cartas e a cantar, que tomamos o mata bicho depois da hora de almoço, que tomar banho de mangueira é cool, que bebemos minis como quem come amendoins, que ouvimos música estranha e que somos muito expressivos (barulhentos na vossa língua) mas afinal só fomos ao Cercal do Alentejo visitar a nossa prima Casimira! 

Comentários

Anónimo disse…
Venho aqui em defesa do "meu" alentejo e dos "meus" alentejanos =)
Acho que tiveste foi azar com a pessoa que te atendeu. Dessas há em todo o Portugal, não apenas ali.
Acredita, que essas gentes, em Agosto, estão cansadas das grandes cavaqueiras que lhes rouba o imenso silêncio em que vivem.
Acredita que melhor que ninguém, eles sabem viver... sabem os pequenos prazeres da vida...sabem dar mais valor que nós.
Não deixes que um mau momento se generalize por todos.

Beijo grande
Fabi

P.S: já estás longe?
Claro que não vou generalizar, mas tivemos azar, mt azar com tudo nesse fim de semana. Foi mais um desabafo porque eu adoro alentejanos!!!
E tb gosto mt de ti minha alentejanita de primeira.
Bjs grds

P.S: Vou estar longe a partir de sábado! Finalmente.

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