E assim ficamos

 





Nada é garantido. 
O ar que respiramos, a água que nos mata a sede, ou a amizade de quem gostamos.
De uma forma ou de outra, tudo nos pode ser negado. 
Quando pensamos que existem pessoas para a vida toda, estamos a iludir a forma como vivemos.
Tudo muda e as pessoas transformam-se em algo. E esse algo deixa de ter a ver connosco.
Os amigos são para toda a vida. 
É uma verdade, porque vivemos muitas coisas juntos, porque os anos passam e não deixamos, nunca, esquecer o vinculo que nos aproximou, por vezes durante décadas. 
Mas também pode ser uma ilusão, quando vimos que estamos em extremos opostos. Actuamos, reagimos e vemos o outro, como se um desconhecido se tratasse.
Ninguém gosta de perder afectos, ligações e pessoas, mas por vezes, por mais que tentemos, não existe volta a dar.
Pormenores, coisas fúteis e insignificantes, ultrapassam o passado e a vida partilhada. 
Os bons e maus momentos, alegrias e tristezas, conquistas e derrotas já não contam. Estão no passado.
No presente agride-se quem nos rodeia. 
Descarregam-se no outro as frustrações, medos e reacções inusitadas, tendo quase a certeza, que mais uma vez, a amizade perdurará. 
Mas, certezas não existem. 
Fica a tristeza da desistência, a mágoa de um afastamento quase ridículo e a certeza, essa sim, da inocência no processo.
Desistir não é, nem pode ser um lema de vida. 
Mas tentar perceber alguém que conheces há tantos anos, e não conseguir leva-nos a isso. 
E assim ficamos. 
Com menos um afecto e mais um desconhecido. 
Sem saber o que fizemos, qual a culpa de que nos acusam e vivemos, mais um dia, com o coração mais vazio.



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