O Outro
O outro, são os que sobram. São o vizinho, o padeiro ou o desconhecido, com quem nos cruzamos. O idoso que diz bom dia, o polícia que nos multa, a pessoa que segura a porta do elevador, quando estamos com pressa. Podem ser estranhos ou íntimos, mas nunca deixam de ser algo exterior. Quantas vezes um amigo, um amante ou um familiar, se tornam algo distante de nós próprios. O eu prevalece sempre, perante o que é mutável. Mas também prevalece, quando se mantém. Viramos a cara ao problema não é nosso. Fugimos porque não temos nada a ver com o assunto, ou limpamos a água do capote, porque não nos diz respeito. Sermos nós, inclui sempre todos os outros. Não somos eremitas, nem somos imunes ao que nos rodeia. Talvez não sobrem, os tais outros, mas adicionem. Da próxima vez que pensarem no outro, de uma forma alheia e desprendida, quase egoísta, pensem que o outro também somos nós.